A maldição das tabelas

Há algum tempo venho investindo uma parte do meu tempo para ler e aprender sobre novas formas de modelar e estruturar dados. Nestes tempos que vivemos, novas tecnologias estão disponíveis e parece ser razoável considerar novas abordagens para representar o mundo real.

Acredita-se que as primeiras tabelas surgiram com os sumérios, na antiga Mesopotâmia, há cerca de 2.000 anos, e nossa civilização vem usando esta forma de organizar dados desde então. Desde a mais tenra idade, na escola e, quando adultos, no trabalho, somos condicionados a organizar nossos dados em linhas e colunas. Até aqui, neste editor de texto que vos escrevo (e na maioria dos outros), existe um botão onde posso, rapidamente, criar uma tabela. No maravilhoso mundo dos bancos de dados, as tabelas não só prosperaram como, desde 1970, passaram a se relacionar e, pasmem, deste relacionamento passaram a ter filhos! E, como que por encanto, as “planilhas de cálculo” se tornaram a solução, não para calcular, mas para listar e organizar dados. A presença onipotente das linhas e colunas perverteu até o mais ingênuo e inócuo arquivo digital. O “TXT” virou o “CSV” e passou a frequentar a elite do mundo digital.

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Era uma vez, em um reino muito distante…

Em agosto deste ano (2022) eu fiz uma postagem chamada “A ferramenta e o resultado do trabalho“, onde eu tive um despretensioso “insight“:

“…Precisamos “comunicar com dados”. É a razão da existência deles. Dados precisam contar histórias, apresentar fatos e constituir evidências.”

Desde então fiquei com a clara percepção de que, como “pesquisadores”, somos “contadores de histórias” (Storytellers). Isso quer dizer que, com os dados coletados em nossas pesquisas, devemos ser capazes de construir uma narrativa relevante para formar uma história com enredo, personagens e ambiente para passar uma mensagem central. E é isso que fazemos em nossos artigos científicos, quando queremos comunicar com nossos pares. Fomos treinados e condicionados para isso. Porém, fomos treinados e incentivados a fazer essa comunicação em formatos muito específicos, como apresentações e painéis em congressos, e artigos científicos, geralmente de forma bem cartesiana, pouco criativa e, porque não dizer, entediante. Deste ponto divergem capacidades de comunicar para o público, com profissionais de jornalismo e comunicação científica. Entretanto, ainda estamos longe de contar histórias cativantes e impactantes sobre o status da biodiversidade para nossos tomadores de decisão, uma das minhas áreas de grande interesse profissional. Continue lendo “Era uma vez, em um reino muito distante…”

Identidade institucional

Lido no meu dia-a-dia profissional com diferentes instituições dentro do domínio que gosto de chamar por “gestão de informação sobre biodiversidade” e, neste processo, percebo diferenças de capacidade e competência destas instituições na lida com dados e informações sobre biodiversidade. A reflexão aqui é sobre em que consiste estas diferenças e quais suas causas.

A ideia deste post surgiu em uma reunião recente onde fui levado a refletir do porquê a instituição “X” tinha diferentes capacidades e competências na lida com dados de biodiversidade, se comparada com a instituição “Y”. No caso, a instituição “Y” era o Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), instituição onde trabalho.

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Discutindo a relação

Quem trabalha no “domínio” da biodiversidade tem a clara percepção de que ela é “transversal” a tudo. A manifestação da biodiversidade está presente nas questões sociais, saúde, cultura, direitos e cidadania, ciência, tecnologia, educação e economia, cobrindo todos os “eixos temáticos”.

Somado a esta característica – a transversalidade temática – aprendi com o professor Jorge Xavier da Silva, da UFRJ, pioneiro do geoprocessamento no Brasil, que dizia que “o fato biológico nunca está dissociado do fato ambiental“. A mais pura verdade! Obrigado professor!

Para complicar ainda mais, na camada mais interna desta “cebola de relações”, as espécies se relacionam entre si de formas e intensidades que mal conhecemos.

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A ferramenta e o resultado do trabalho

Caros leitores,

Primeiramente peço perdão pelo longo hiato de (exatamente!) dois anos, desde meu último post. Se você não vive em uma caverna inacessível de uma ilha isolada, no meio de um oceano desconhecido, sabe que os últimos dois anos foram, digamos, “transformadores”.

Esta transformação se deu em diferentes “planos”, “domínios” e “intensidades”. Uma delas foi na forma de realizar o trabalho – “conjunto de atividades, produtivas ou criativas, que exercermos para atingir determinado fim“. Como destaque, o trabalho remoto, que foi uma solução que evitou o colapso de alguns setores da economia. Apoiado por tecnologias de interação por vídeo e voz, utilizando computadores e celulares conectados a Internet, esta forma de trabalho amadureceu e se consolidou como uma nova opção.

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Um Assistente pra chamar de seu

Downton Abbey Jim Carter as Charles Carson Looking Dapper in Tux 8 ...Neste mundo digital sobrecarregado de informações, encontrar exatamente o que se quer é uma tarefa árdua e, via de regra, frustrante. As empresas descobriram isso muito rápido, quando clientes tentam entrar em contato com o “suporte” para tirar uma dúvida ou, quase sempre, reclamar.

Com os progressos da “Inteligência Artificial”, começaram a surgir agentes ou assistentes virtuais cujo objetivo principal é auxiliar as pessoas a navegar neste avassalador espaço virtual e encontrar o que se quer. E, em algum momento, os assistentes baseados em comandos de voz, como o Alexa e o Google Assistant se fundiram com as ferramentas de “chat”, como o WhatsApp e Telegram e os assistentes virtuais baseados em inteligência artificial para atender clientes de grandes empresas começaram a surgir “como cogumelos depois da chuva”! Os mais conhecidos por aqui são a “Joice“, da OI (detalhes); e a “Lu” do Magazine Luiza. Na prática, com essas ferramentas, os clientes falam com “robôs treinados” que são capazes de entender a pergunta – da mais vaga e imbecil até a mais precisa e inteligente – e responder de forma apropriada. E, como característica fundamental da Inteligência Artificial (Machine Learning), ficam a cada dia mais inteligentes.

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O domador

Eu adoro essa ilustração do artista alemão Michael Sowa. Há alguns anos eu vi essa imagem pela primeira vez e me identifiquei com ela em vários aspectos. Desde então ela mora nos meus arquivos e mais recentemente ela tem me tocado novamente, ilustrando algumas ideias que gostaria de compartilhar agora com vocês.

Ando lendo bastante e profundamente interessado em como a Inteligência Artificial poderia ser utilizada para acelerar a geração de informação qualificada em biodiversidade. De forma mais específica, ando interessado em técnicas de “Machine Learning” para interpretação de imagens. Continue lendo “O domador”

Sonhando com um lago

Há algum tempo um lago tem frequentado meus sonhos. Explico.

Há muito e muito tempo atrás, em 2010 (percepção de tempo ajustada para falar de tecnologia), um sujeito chamado James Dixon publicou em seu blog algumas considerações:

  • 80-90% das empresas estão lidando com dados estruturados ou semi-estruturados (não desestruturados).
  • A origem dos dados é tipicamente um único aplicativo ou sistema.
  • Os dados são geralmente subtransacionais ou não transacionais.
  • Existem algumas perguntas conhecidas para perguntar sobre os dados.
  • Existem muitas perguntas desconhecidas que surgirão no futuro.
  • Existem várias comunidades de usuários que têm perguntas sobre os dados.
  • Os dados são de uma escala ou volume diário, de modo que não se ajustam técnica e / ou economicamente a um RDBMS.

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A entrega da informação sobre biodiversidade

Depois do último post comentando sobre o fluxo de dados até a tomada de decisão, gostaria agora de focar e explorar a última etapa deste fluxo: a entrega da informação sobre biodiversidade. E, para fins didáticos, vou usar como analogia um restaurante.

Vamos considerar que existem pessoas “famintas” por informação de qualidade sobre biodiversidade, e chamaremos estas pessoas de “tomadores de decisão“.  Vamos considerar também que elas vão ao restaurante para consumir os pratos oferecidos no cardápio (ou não!), que reconhecemos aqui como “informação“.

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De dados à decisão – o fluxo de dados em biodiversidade

O dado sobre biodiversidade cumpre um longo trajeto, com várias etapas intermediárias,  até chegar ao seu consumidor final e participar do processo de tomada de decisão. Assim como um produto de varejo qualquer, como uma blusa por exemplo, que é composta de tecido, linha e botões agregados de forma precisa e lógica, o dado sobre a biodiversidade é como o botão, ou a linha, ou mesmo o tecido. Na mão de “alfaiates” habilidosos estes elementos tomam forma e propósito.

Uma vez formada a imagem ilustrativa com o exemplo da blusa, fica fácil imaginar o produto final como a agregação de diferentes elementos – ou recursos de informação – cuja produção cumpre uma série de etapas ou trechos até chegar a sua forma final, que é atender um propósito específico do seu consumidor.  Assim, o que pretendo discutir aqui são os trechos percorridos pelo dado, da sua coleta até se transformar em um produto final, pronto para ser “consumido” em um processo de tomada de decisão. Continue lendo “De dados à decisão – o fluxo de dados em biodiversidade”