AI de mim…

Precisamos falar sobre a inteligência artificial (AI). Ou, pelo menos, eu gostaria de compartilhar um pouco da experiência e sentimentos que estou tendo com uso de ferramentas de AI em várias atividades. Tanto profissionais quanto pessoais.

Creio que preciso deixar claro que talvez não seja um usuário padrão da AI, que entendo (talvez até de forma preconceituosa) ser aquele que recorre ao ChatGPT eventualmente, para realizar uma tarefa ou duas, relacionadas com resumos e minutas de documentos, ou sanar algumas dúvidas e questões específicas. No meu caso, ando usando a AI como uma “alavanca” para produzir “coisas” de forma mais independente, rápida e precisa.

Imagem gerada pelo GEMINI 2.5 Pro (https://gemini.google.com/)

Como exemplo concreto e prático, juntamente com meu “fiel escudeiro” Henrique Pinheiro, criamos o “ChatBB – O “chat” da Biodiversidade Brasileira“, uma implementação do maravilhoso protocolo MCP – Model Control Protocol , desenvolvido pela Anthropic, que permitiu “linkar” uma base de dados integrada da biodiversidade brasileira com um “Large Language Models” (LLM) das empresas OpenIA e Google para interpretar e responder perguntas sobre espécies da biodiversidade brasileira, suas ocorrências, seu risco de extinção, unidades de conservação e espécies invasoras. O ChatBB pode ser acessado aqui: https://biodiversidade.online/chat (divulgando pela primeira vez para acesso público!). Por favor, veja AQUI detalhes do projeto e exemplos de perguntas que você pode fazer, com algumas respostas.

Lembre-se de que isso não é um “produto”. É um exercício acadêmico. Uma prova de conceito do que um LLM conectado a um banco de dados sobre biodiversidade pode fazer. Não espere perfeição nem 100% do tempo on-line, porque ele roda em um servidor privado, de desenvolvimento.

Para quem não se lembra, estou envolvido no desenvolvimento de um “agente inteligente” há cerca de cinco anos, antes do ChatGPT “bombar”. Aqui está a prova! E este projeto – DwC2JSON – tem pelo menos dois anos de esforço.

Porém, mais recentemente, tenho testado e adotado ferramentas para atividades mais mundanas, tanto pessoal quanto profissional, e penso que o sentimento mais forte é o de que não vou conseguir mais viver sem essas “muletas tecnológicas”. E o grande debate, ou dilema, é: isso é bom ou ruim?

Enquanto o mundo acadêmico coleciona medos e mitos sobre o uso da AI, noto um certo “torcer de nariz” de alguns colegas acadêmicos, quando falam do uso da AI, seja por professores, pesquisadores ou alunos. O mesmo “torcer de nariz” que tenho visto em programadores, que já criaram o “meme” do “Pull Stack Developer“, que só sabe “baixar” os códigos gerados pelo ChatGPT e colocar no seu GitHub.

Em relação ao mundo acadêmico, parece ser um caminho sem volta. Vamos aos fatos:

Estatísticas sobre Estudantes:

  • 88% dos estudantes usam ferramentas de IA generativa para avaliações em 2025 (aumento de 53% em 2024) (fonte)
  • 92% dos estudantes usam alguma ferramenta de IA em 2025 (aumento de 66% em 2024) (fonte)
  • 86% dos estudantes usam IA em seus estudos, com 54% usando semanalmente (fonte)

Estatísticas sobre Pesquisadores:

  • 73,6% dos pesquisadores já usam IA na educação (fonte)
  • 51% usam IA para revisão de literatura (fonte)
  • 46,3% de estudantes e pesquisadores usam IA para escrita e edição (fonte)
  • 76% dos pesquisadores usam ferramentas de IA ao conduzir pesquisas (Oxford University Press, 2024 – survey com 2.345 pesquisadores)

(estatísticas descobertas pelo claude.ai, em conversa sobre esta postagem)

Agora, onde tenho realmente ficado espantado, é no uso a AI como um “Personal Digital Assistant”, e como um “Programador Assistente”.

No primeiro caso, ferramentas como Gemini e Claude – que são as que uso, ambas contas pagas – conectam com sua conta de email, seu calendário e documentos do Google e podem te ajudar a organizar sua semana, de forma eficiente e produtiva. Algo como “leia meus emails e veja na minha agenda quais são minhas prioridades para os próximos dias” e “Tenho uma reunião com a pessoa X, leia meus emails e veja os documentos relacionados com esta pessoa e faça um resumo do que preciso saber para esta reunião” são demandas legítimas para este assistente pessoal, e muito interessante acompanhar as respostas.

Como “Programador Assistente” então, usando as versões “CLI” (command line interface) do Gemini e Claude, olhando para pastas de arquivos locais, resultado de clonagem de um repositório GitHub, por exemplo, demandas como “desenvolva um script em Python que acesse minha base de dados de ocorrências no GRITS, via API, e calcule o Índice de Shannon, o Índice de Simpson e a Equitabilidade de Pielou para estes dados” são perfeitamente realizadas e em muito pouco tempo.

Ando experimentando, ainda sob o projeto DwC2JSON citado acima, ir “lapidando” um dashboard que representa um resumo da base de dados integrada. Este é o resultado do último “commit”: https://biodiversidade.online/dashboard. Tenho avançado a passos lentos. Quando tenho um tempinho, peço pro “Claude” implementar mais alguma coisa.

Sim. Talvez caiba a discussão se os “alunos” vão ser pessoas melhores ou piores, pedindo para a AI gerar o script para analisar seus dados. Porém, o ganho na produtividade é inegável. Nessa corrida contra a extinção de espécies e todos os desafios socioambientais relacionados com a perda de biodiversidade e mudanças climáticas, penso que precisamos de toda ajuda possível. E tenho cada vez mais a impressão de que a AI vai ter um papel cada vez mais significativo na solução para esta “sinuca” que nos metemos. Quem viver verá!

9 respostas para “AI de mim…”

  1. Obrigada, Eduardo! A cada dia só vejo quanto eu tenho para aprender contigo! Obrigada por compartilhar. Entendo que a Inteligência Artificial quando usada com consciência pode ser uma ferramenta importante em um cenário onde a produção de dados supera muito a capacidade humana de processamento.

  2. Ótimo texto, Dalcin.

    “Tenho testado e adotado ferramentas para atividades mais mundanas, tanto pessoal quanto profissional, e penso que o sentimento mais forte é o de que não vou conseguir mais viver sem essas “muletas tecnológicas”. E o grande debate, ou dilema, é: isso é bom ou ruim?”

    Esse trecho resume meu sentimento com relação ao uso de AI de uma forma brilhante. Se por um lado o ganho de produtividade foi exponencial, por outro, me sinto cada vez mais dependente do seu uso. Às vezes bate uma síndrome do impostor na qual não me sinto bom o suficiente, ou pelo menos fico com uma pulga atrás da orelha, de enviar um texto sem ser revisado por AI.

    E aquele tempo de ócio criativo, de se desafiar a pensar em algo novo? Hum…, cada vez menor.

    Uma vez um amigo me disse algo como “conhecimento é profundidade”. Me considero um bom usuário de ferramentas de AI, pois me especializei no tema no qual busco respostas/ajuda. Assim, consigo “conversar” com AIs, averiguar a qualidade das respostas e tirar minhas próprias conclusões.

    Mas, e na ausência de conhecimento prévio que amola o senso crítico, seria a AI uma muleta de fato? E, se assim for, certas pessoas estaria desaprendendo a andar?

    1. Caríssimo Bruno. Obrigado pela contribuição e reflexões. Creio que essa “dependência” já existe. Sempre existiu e sempre existirá a necessidade de agregar conhecimento de uma fonte externa. Desde a aurora da humanidade, jovens aprendem a caçar com os mais velhos. Até poucos séculos atrás, buscávamos conhecimento acumulado nos livros da biblioteca. Aí veio a internet e, imagino que, como eu, aprendeste a programar “clicando aqui e ali”. Penso que não há nada de “impostor” nisso. A fonte externa apenas mudou de rosto. E, da mesma forma, o juízo crítico sobre aquilo a que estamos expostos é o segredo!

      Como falei, AI tem sido uma “alavanca” para mim. Hoje faço menos esforço para mover as grandes pedras que aparecem no meu caminho. Algumas pedras podem rolar descontroladas morro a baixo? Sim! Mas, penso que o cuidado no uso da alavanca pode minimizar esta chance.

  3. Obrigado por compartilhar Dalcin! Excelente texto e em momento oportuno diante de tantos debates sobre AI. Vilão ou mocinho…a AI veio para ficar e depende de cada um de nós entender o qto essa ferramente pode ser útil em nossas vidas e aprender a usá-la de forma coerente e com bom senso, sem dúvida esse é um paradigma atual!!!

  4. The good, the bad and the ugly! Belo texto, Dalcin! Obrigada por compartilhar. Tenho usado AI moderada e modestamente e ainda não consigo emitir uma opinião descente sobre o assunto 🙂

  5. Obrigado Dalcin! Sempre muito provocativo e promovendo ótimas reflexões mesmo para um usuário ocasional como eu.

  6. Muito bom, meu caro! Sempre na vanguarda tecnológica, protegendo a nossa biodiversidade brasileira com todos os artefatos possíveis com o uso coerente e consciente. Keep going…!!!!

    Vamos levar a ferramenta para ser demonstrada no ICSE, 2206, pela primeira vez a ser desenvolvido no Brasil?

    Tem esses workshops com submissões abertas, os quais acho que seriam interessantes apresentar esse trabalho:

    https://conf.researchr.org/home/icse-2026/seigs-2026

    https://conf.researchr.org/home/icse-2026/sers-2026

    https://conf.researchr.org/track/icse-2026/icse-2026-tutorials

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